Estudando a nossa lição de nº 11 da EBD, com o título “O dia de adoração e serviço a Deus”, editado pela CPAD, fui surpreendido no ponto 3, do tópico 3, com a expressão do comentarista: “Então, porque guardamos o domingo?”. Fiquei surpreso, pois, sendo assembleiano há 18 anos, servindo como diácono, presbítero e atualmente como pastor, nem eu mesmo sabia que “guardava o domingo”. E mais surpreso ainda, pelo comentário de nº 3, da nota de rodapé da minha querida Bíblia de estudo pentecostal, página 1410, referente a passagem de Mateus 12.1, dizendo: “…o dia de adoração (o domingo) é um sinal de que este [o povo de Deus] pertence a Cristo.”
Não tenho nenhuma pretensão deste breve artigo esgotar esta questão teológica, mas,vejamos os pontos a seguir:
1) É fato de que nós, cristãos, não temos a obrigação cerimonial e legal, como os israelitas, da guarda do sábado. O fim da Lei é Cristo (Rm 10.4). Ele é o nosso repouso (Hb 4.5). De igual forma, guardar religiosamente outro dia, mesmo sendo o domingo, é voltar aos “pobres rudimentos da Lei” (Gl 4.9-11); é fraqueza de fé (Rm 14.5); é ir atrás do credor pedindo para se endividar novamente (Cl 2.14-17);
2) Realmente o Novo Testamento registra importantes eventos ocorridos no primeiro dia da semana:
a) Ressurreição do Senhor Jesus: Marcos 16:9 / Mateus 28:1 / Marcos 16:2 / Lucas 24:1 / João 20:1;
b) Aparição de Jesus pós-ressurreição: João 20:19;
c) A reunião da Igreja para partir pão (Atos 20:7) e ofertar aos necessitados (1 Coríntios 16:2);
d) O arrebatamento de João (Ap 1.10).
Porém, se é para levarmos em conta somente a frequência de determinado evento como critério de se estabelecer um mandamento, vamos estar em contradição, pois, há muito mais ocorrência ministeriais de Jesus e da igreja primitiva aos sábados que aos domingos (Lucas 13:10; Mateus 12:8; Mateus 24:20; Marcos 2:28; Marcos 16:1; Lucas 6:5; Lucas 23:54; Lucas 4:31; João 5:16; Marcos 1:21; Marcos 2:23 Marcos 2:24 Marcos 3:2 Marcos 15:42 Lucas 6:1 Lucas 14:1 Lucas 23:56 João 5:9 João 7:22 Marcos 2:27 Lucas 13:14 João 7:23 João 19:31 Mateus 12:5 Mateus 12:1 Mateus 12:11 Mateus 28:1 Lucas 4:16 Lucas 6:6 Lucas 13:15 Lucas 13:16 Lucas 14:3 Lucas 14:5 João 5:10 João 9:14 Lucas 6:2 Lucas 6:7 Marcos 6:2.João 9:16 Lucas 6:9 João 5:18.Marcos 3:4 Mateus 12:10.Mateus 12:12; Atos 13:14 / Atos 13:44 /Atos 13:42 /Atos 16:13);
3) Não há no novo testamento nenhuma ordenança, nem de Jesus ou por parte dos apóstolos, quanto a guarda um dia da semana, seja sábado ou domingo. É tanto que, ao término do concílio de Jerusalém, isso nem foi levado em consideração: “Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da prostituição, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá.” (Atos 15:28-29);
4) Preocupo-me também com as origens dessa insinuação da “guarda de um dia”, uma vez que: “Assim nos ensina o Catecismo da Igreja católica: §2177 A celebração dominical do Dia e da Eucaristia do Senhor está no coração da vida da Igreja. "O domingo, dia em que por tradição apostólica se celebra o Mistério Pascal, deve ser guardado em toda a Igreja como dia de festa de preceito por excelência.""Devem ser guardados igualmente o dia do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, da Epifania, da Ascensão e do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, de Santa Maria, Mãe de Deus, de sua Imaculada Conceição e Assunção, de São José, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e, por fim, de Todos os Santos." (http://vocacionadosdedeusemaria.blogspot.com/2009/01/guardar-domingos-e-dias-de-festa.html - acessado em 08/12/11);
5) Assim como houve uma grande distorção quanto ao propósito da guarda do sábado para os judeus, até que ponto essa sorrateira proposta de guarda do domingo não se tornará mais uma pedra de tropeço legalista, que mais nos afastará de Deus e do exercício do amor ao próximo, conforme Mateus 12.1-15?;
6) Agora, absurdo mesmo é o comentário da Bíblia pentecostal: “…o dia de adoração (o domingo) é um sinal de que este [o povo de Deus] pertence a Cristo”. Resumindo: se eu não guardar o domingo, não pertenço a Cristo!
Ora, pensava que o sinal de pertencimento a Cristo fosse o fato D’ele ter nos comprado com seu precioso sangue (I Pe 1.18,19; Ap 5.9), de sermos selados com o Espírito Santo da promesa (Ef 1.13,14) e de sermos sustentados pelo seu grande amor (Rm 8.37-39).
Paulo diz:
“Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em sua própria mente. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor o faz e o que não faz caso do dia para o Senhor o não faz. O que come, para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que não come, para o Senhor não come, e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si, e nenhum morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor. Porque foi para isto que morreu Cristo, e ressurgiu, e tornou a viver, para ser Senhor, tanto dos mortos, como dos vivos.” (Romanos 14:5-9).
E ainda:
Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco. (Gálatas 4:10-11)
7) A verdadeira adoração não é limitada ao lugar (Jo 4.21-24) ou ao dia (Sl 145.2). Na verdade, “hoje, se ouvirdes a sua voz, Não endureçais os vossos corações” (Hebreus 4:7).
Amados, tomemos cuidado com propostas “as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” (Colossenses 2:23). “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (Gálatas 6:14-15).
Em Cristo,
Pr. Ronaldo Lucena.