“Palavras são palavras, nada mais do que palavras”. Este era o bordão de um personagem político bonachão num antigo programa humorístico, que se pautava pela embromação decorrente do desprezo que sentia pelos cidadãos, muito embora soubesse que os mesmos lhe propiciavam as sinecuras muito bem remuneradas e um elevado padrão de vida que a maioria não tinha. Certamente era inspirado no código de ética sempre em vigor para aqueles que não têm nenhum compromisso com suas palavras para além daquele estabelecido para si próprios.
Mas palavras têm poder! Palavras curam. Palavras ferem. Palavras levam vida. Palavras carregam morte. Palavras confortam. Palavras ofendem. Palavras libertam. Palavras prendem. Palavras dão voz às massas. Cassem-se as palavras e, inevitavelmente, as liberdades se vestirão de luto. Palavras liberam ou cessam o direito de ir e vir. Todos os dias nós labutamos no campo fértil do inevitável poder das palavras.
A maioria dos especialistas concorda que o principal ponto de rompimento dos relacionamentos, hoje e sempre, está intimamente ligado à comunicação, especialmente quanto ao modo como falamos às outras pessoas. Certamente, por isso, o apóstolo Paulo ensinou: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29).
Paulo usou a palavra torpe para descrever o discurso que tem o poder de causar danos às pessoas, sejam adultos ou crianças. Ao mesmo tempo, afirmou que a boa comunicação – o conjunto de boas palavras que sai da nossa boca – é essencial para o crescimento pessoal, pois tem o poder de edificar as pessoas. Assim, quando causamos crescimento interior nos outros por meio do nosso discurso, instilamos graça ou benefício espiritual na totalidade de suas vidas.
É exatamente por isso que devemos examinar os nossos hábitos ao falar e, assim, evitar palavras duras ou descuidadas. Cabe a cada um de nós decidir edificar as pessoas do seu convívio, especialmente as crianças.
A origem do problema pode ser o fato de vivermos em uma sociedade marcada pelo negativismo, o que geralmente nos torna “do contra”, sempre contra alguma coisa, não a favor de algo.
O desastroso é que principalmente nós, os cristãos, deveríamos ser conhecidos como pessoas com atitudes positivas que promovem aquilo que é bom e certo, a começar pelas palavras que falamos. Não poucos cristãos se perturbam com os males de nossa sociedade, mas nada fazem que vá além de falar negativamente sobre os mesmos, num movimento incontido de murmuração pela murmuração.
Dentro de casa, sem dúvida, o problema é mais grave. Há exemplos de palavreados que frequentemente são imputados aos filhos, frutos de uma comunicação torpe e destruidora. De uma lista interminável, pululam alguns maus exemplos: Você é burro. O que há de errado com você? Você não faz nada direito. Você nunca aprende. Você não sabe nada. Você sempre quebra as coisas. Você é um desastre. Você nunca vai conseguir.
O sábio Salomão afirmou: “A morte e a vida estão no poder da língua; o que bem a utiliza come do seu fruto”. E também: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Pv 18:21; 25.11). Jesus foi contundente sobre a fonte de nossas palavras: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45). Ele adiantou que cada pessoa dará conta, no Dia do Juízo, de toda palavra frívola que proferir. E acrescentou: “Porque, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mt 12.37).
Podemos, sim, mudar para uma comunicação edificante, pelo simples fato de que, indubitavelmente, há poder em nossas palavras. Por exemplo, em vez de palavras negativas, temos muitas maneiras de dizer “muito bem” as palavras certas: Você realmente se esforçou hoje. Você é uma pessoa abençoada. Isso mesmo, você acertou. Estou orgulhoso de você. Você é muito bom nisso. Agora você entendeu o espírito da coisa. Vamos, continue, você chegará lá. Ou apenas dizer um simples “muito obrigado”.
A escolha é nossa. É muito melhor ser um farol da graça e da verdade com boas palavras do que um multiplicador da condenação com más palavras. O apóstolo Paulo deu a receita: “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida” (Fp 2.14-16).
O fato é que as pessoas precisam mais de quem as encoraje e as edifique do que de quem as critique e as derrube. E isso tem a ver com as palavras que falamos. Então, podemos ser uma fonte de bênção, ou uma fonte de maldição. Resta saber se você, sabedor do inevitável poder das palavras, estaria disposto a fazer a coisa certa.
Samuel Câmara - Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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