Uma
busca despretensiosa nos milhares de sites que tratam de pesquisa de
credibilidade nas atividades profissionais certamente revelará que,
principalmente neste século, ser pastor é uma atividade em baixa. A
exemplo do que ocorre no resto do mundo, os bombeiros são os profissionais em
que mais as pessoas confiam, seguidos pelos carteiros; e os políticos, os menos
confiáveis. Apenas
um percentual que geralmente não ultrapassa os 15% diz acreditar em pastores,
quando mais da metade opina que os tais não são dignos de confiança.
O que a grandeza desses números
representa de positivo e negativo? Se os percentuais são similares no mundo
todo, isso de alguma forma representa uma síndrome pastoral?
Certamente não sou daqueles que
pensam que “a voz do povo é a voz de Deus”, mas também não desprezo a voz do
povo, quando esta ressoa posições que apontam diferenças significativas. Se a
maioria não acredita em pastores, o que isso realmente quer dizer? Há algo de
errado no comportamento de alguns pastores para que suas vidas não inspirem
credibilidade. E o que dizer da opinião da minoria? Isso quer dizer também que
há pastores cujas vidas refletem o caráter devido aos verdadeiros servos de
Deus.
Há, decerto, embutida nessas
pesquisas, uma mensagem que a sociedade está enviando para a igreja. O
julgamento da credibilidade dos pastores aponta para o nivelamento entre sua
vida pessoal e a mensagem que pregam. Não pode ser diferente. Haja vista que
pastores são arautos da Palavra de Deus, não é incongruente que suas vidas sejam
avaliadas e julgadas pelos mesmos princípios que preconizam.
Charles Spurgeon, considerado o
príncipe dos pregadores, no livro Lições
a Meus Alunos conta a
história de um pastor que pregava tão bem mas vivia tão mal, que ao postar-se
no púlpito, todos diziam que nunca deveria sair dali; e quando não estava no
púlpito, todos diziam que jamais deveria assomá-lo novamente. Com isso, ele
exortava os ministros a se empenharem para que o caráter pessoal se
harmonizasse, sob todos os aspectos, com o ministério que Deus lhes confiara.
É fácil entender que um modo
preciso e rápido de acabar o ministério de um pastor é a comunidade discernir
que sua conduta pessoal não corresponde à imagem pública que demonstra.
O pastorado não é uma profissão, é
um sacerdócio que encerra vocação e chamada divina. Hoje, é socialmente
aceitável que as pessoas entrem nas mais diversas profissões — política,
comércio, entretenimento etc. — e obtenham sucesso público, sem, contudo, levarem
em conta sua vida privada. No ministério pastoral, ao contrário, esse tipo de
sucesso não permanece por muito tempo.
Infelizmente, o sentido
mercantilista de “fazer igreja”, no qual uma atividade essencialmente
espiritual foi transformada em mais um grande negócio, gerou uma anomalia
ministerial, talvez por escassez de nomenclatura, também chamada de “pastor”.
Por isso, há pastores para todos os gostos e desgostos. Mas reconheçamos, há
diferenças definidoras e significativas que ajudam a reconhecer um verdadeiro
pastor.
O Senhor Jesus Cristo reservou para
Si a tarefa de chamar e qualificar os Seus ministros para o sagrado encargo de
pregar o Evangelho, visando “ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do
seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo” (Ef 4.11-13). Embora Jesus
tenha disposto as diretrizes claras que estabelecem o perfil de conduta pública
e privada dos pastores, infelizmente alguns tentam seguir modelos de sucesso
profissional meramente humanos. O homem de Deus só deve espelhar-se no modelo
de Jesus, o único “Pastor e Bispo da nossa alma”.
Quando Paulo era jovem, Jesus lhe
deu o seguinte norteamento ministerial: “Levanta-te, porque por isto te
apareci, para te constituir ministro e testemunha, tanto das coisas em que me
viste como daquelas pelas quais te aparecerei ainda, livrando-te dos gentios,
para os quais eu te envio, para lhes abrires os olhos e os converteres das
trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam
eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em
mim” (At 16.16-18).
O velho Pedro aconselhou: “Eu, que
também sou pastor, dou agora conselhos aos outros pastores... que cuidem bem do
rebanho que Deus lhes deu e façam isso de boa vontade, como Deus quer, e não de
má vontade. Não façam o seu trabalho para ganhar dinheiro, mas com o verdadeiro
desejo de servir. Não procurem dominar os que foram entregues aos cuidados de
vocês, mas sejam um exemplo para o rebanho. E, quando o Grande Pastor aparecer,
vocês receberão a coroa gloriosa, que nunca perde o seu brilho” (1Pe 5.1-4).
O equilíbrio é este: “Quem prega
pregue a palavra de Deus; quem serve sirva com a força que Deus dá. Façam assim
para que em tudo Deus seja louvado por meio de Jesus Cristo, a quem pertencem a
glória e o poder para todo o sempre!” (1Pe 4.11).
A marca essencial de um pastor terá
sempre este selo: “O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”.
Samuel Câmara - Pastor da Assembleia de Deus em Belém
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv